O GLOBO – Artigo: Coronavírus é prova para toda a nação

19/03/2020 | Coronavírus, Na mídia

Não há sistema capaz de suportar uma demanda de doentes graves em larga escala

Multas para quem sair de casa sem a devida autorização. Prisão em caso de desrespeito à quarentena. Comércio e fronteiras fechados, cidades e países isolados. Tabelamento de preços e proibição de exportação de materiais e equipamentos médicos essenciais. Tudo isso a que estamos assistindo acontecer no exterior, e que começa a se tornar também uma duríssima realidade bem próxima de nós, não é exagero diante da pandemia provocada pelo Covid-19. Como já se esperava, o coronavírus chegou ao Brasil e à América do Sul. Somos a bola da vez.

Definitivamente, não se trata de uma gripe comum. Seu maior problema não é nem a sua letalidade (alta apenas para pessoas acima de 60 anos e imunodebilitados), mas a velocidade com que se propaga, num ritmo tão devastador que coloca em xeque os mais avançados sistemas de Saúde  — públicos e privados  — do mundo. Embora 80% dos infectados apresentem sintomas leves ou nenhuma reação, cerca de 20% se tornam graves e, destes, 5% necessitam de UTI. São internações longas, de até 15 dias. Não há sistema capaz de suportar uma demanda de doentes graves em larga escala, ao mesmo tempo. Daí a necessidade do isolamento social radical.

As características do Brasil, um país continental, e do Rio em particular, são desafios extras nesse contexto. Na capital fluminense, cerca de um milhão de pessoas vive em comunidades, em barracos muitas vezes sem janelas e de um único cômodo, onde coabitam vários entes da mesma família. Como fazer isolamento domiciliar de casos leves em situações assim? A China usou hotéis para isso. Aqui, essa pode ser uma solução, a partir de parcerias com a rede hoteleira, num momento em que o turismo está extremamente afetado.

É absolutamente prioritária a definição de uma estratégia clara, porque não se pode deixar para pensar nisso quando houver o início dos sinais de transmissão comunitária nas favelas e comunidades, pois será tarde demais para se buscar alternativas.

Fundamental que se dê também especial atenção aos abrigos para idosos, dada a vulnerabilidade deste grupo. Essencial, ainda, proibir de imediato a exportação de materiais e equipamentos essenciais nesta crise: máscaras de proteção, luvas, monitores, camas, álcool 70, respiradores artificiais são apenas  alguns exemplos. Mais de 50 países já adotaram essa medida. Proposta neste sentido, de minha autoria e da deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), foi aprovada nesta terça-feira, dia 17 de março, pela Câmara dos Deputados. Agora, o projeto vai para o Senado, mas não há razão para esperar. Na França, além proibirem exportação desses materiais, também tabelaram o álcool em gel. O mesmo precisa ser feito aqui.

A Comissão Externa criada pela Câmara dos Deputados para o coronavírus, da qual sou coordenador, é formada por dez parlamentares, todos da área médica e de altíssimo nível técnico. Também em coautoria com a relatora Carmen Zanotto (Cidadania-SC), aprovamos outros dois projetos importantes: o que revoga temporariamente a proibição da Anvisa para que país produza álcool 70 líquido durante essa emergência (a Anvisa já se manifestou a favor); e o que autoriza o SUS a usar verbas que sobraram de programas com os estados para o combate ao coronavírus.

Até o momento, foi exemplar a forma como o Ministério da Saúde tem lidado com a crise, disponibilizando, sobretudo, informação de qualidade para a população. Agora, no entanto, entramos na fase do enfrentamento da doença. Além de coordenação e liderança, será preciso disponibilizar sobretudo recursos para o atendimento na ponta, porque os estados e municípios, quebrados financeiramente, não conseguirão enfrentar o que está por vir sem ajuda federal.

A parceria com a Saúde privada e conveniada também será muito importante não apenas para a uniformização de protocolos, mas para a criação de novos leitos de UTI e de uma rede de pronto atendimento capaz de dar rapidamente diagnóstico e orientação terapêutica aos cidadãos.

A experiência internacional aponta que o ciclo da Covid-19 é de quatro meses. Ou seja: temos pela frente um período duríssimo, de verdadeira provação. Precisaremos de muita disciplina, em que deverá prevalecer a união, o espírito público e a solidariedade, acima das disputas políticas, das vaidades e da ganância. Se sobrevivermos a isso  — e temos condições para tal  — certamente sairemos melhores e mais fortes, como seres humanos e como nação.

Luiz Antônio Teixeira Jr é médico, deputado federal (PP-RJ) e coordena a Comissão Externa para o Coronavírus da Câmara dos Deputados

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL O GLOBO EM 19/03/2020

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