Como vai ser a logística da vacinação?
As discussões sobre se a futura vacina contra a Covid-19 deve ou não ser obrigatória correm o risco de chegar ao plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Porém considerando que não existe sequer ainda uma vacina aprovada pela ciência, o debate não é apenas inócuo, como também contraproducente, já que ele desvia o foco do tema que deveria ser o principal neste momento: preparar o SUS e os milhares postos de saúde Brasil afora para quando a vacina, finalmente, chegar, possivelmente no primeiro trimestre de 2021.
Quando as vacinas forem enfim concluídas, seja lá qual idioma falarem, e estiverem aprovadas pela Anvisa e sendo produzidas no Brasil — pela Fiocruz, pelo Instituto Butantan ou por ambos —, caberá às Unidades Básicas de Saúde (UBS) deste país continental a hercúlea tarefa de vacinar milhões de brasileiros ávidos por se libertarem do coronavírus. Se a imunização se der em duas doses, multiplique a dificuldade por dois.
Estaremos preparados para esse momento ou faremos como na pandemia, quando ficamos assistindo ao tsunami se aproximar e, quando enfim ele chegou, faltou de tudo por aqui, de máscaras a respiradores? Teremos seringas e agulhas suficientes? Luvas e máscaras para os agentes de saúde? As geladeiras dos postos estão em bom estado ou precisam ser trocadas? E nas áreas onde falta luz com frequência, como na Baixada Fluminense? Será necessário instalar geradores? Qual será a logística de distribuição e armazenamento do imunizante? E como será feita a segurança do material para que ele não seja roubado? Uma coisa é certa: não podemos novamente deixar tudo para a última hora, quando a demanda mundial explodir e faltarem esses materiais no mercado e seus preços estiverem pela hora da morte.
Decidir se a vacinação deve ou não ser obrigatória, hoje, é mais ou menos como arrumar uma mala sem saber o destino da viagem. Não tem como saber o que levar antes de a ciência dizer, por exemplo, quais os efeitos colaterais da vacina, que é o que está em teste neste momento. Em 2017, por exemplo, quando houve o surto de febre amarela na Região Sudeste, e eu era secretário estadual de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, pessoas acima de 65 anos e com imunodeficiência foram desaconselhadas a se vacinar, pois os testes clínicos apontaram risco de esses grupos desenvolverem a doença. Para essas pessoas, as vacinas só eram aplicadas mediante atestado de um médico se responsabilizando pelas possíveis consequências.
Ou seja: enquanto não existir uma vacina aprovada, a discussão sobre se a vacinação deve ou não ser obrigatória é inócua. O STF sequer tem elementos científicos para decidir a questão. A politização da doença, a que assistimos acontecer desde o início da pandemia, continua tirando o nosso foco do essencial. É hora de sermos práticos e planejar os próximos passos, em vez de criar falsas polêmicas. A Covid-19 — esse inimigo invisível comum a todos — continua por aí, vencendo por 7 a 1, tirando vantagem da nossa desorganização.
Dr. Luizinho é deputado federal (PP-RJ) e presidente da Comissão Externa do Coronavírus
Artigo publicado no O Globo em 9/11/2020. Link para acesso: https://oglobo.globo.com/opiniao/como-vai-ser-logistica-da-vacinacao-24728971
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